Paulistano, protestante, palmeirense fanático, apaixonado por esporte e história. Vem comigo.

domingo, 8 de dezembro de 2013

ENREDO DE CINEMA...

O ano era 1995, mas precisamente no mês de junho. Quando parte do mundo olhava para a África do Sul. Por dois motivos, um era a terceira edição do  Mundial de Rugby, que seria disputada no país africano. E o outro era que isso ocorria dentro do mandato do presidente Nelson Mandela, um dos maiores líderes de toda humanidade.
Antes do Mundial, Mandela enfrentava os problemas pós-Apartheid, como o crime e a pobreza crescendo de forma rápida. Mesmo em meios de grandes problema no país, o presidente percebe em um jogo, que os negros torcem contra a seleção de seu país, pelo fato dela ainda representar o Apartheid. E ele assume que fazia o mesmo durante o período preso em Robben Island. Mas ele entende que o tempo de torcer contra o próprio país estava encerrado, principalmente por estar às portas de um Mundial. Mandela, também foi informado pelo boicote que muitos faziam sobre a seleção e pessoalmente interviu isso, alegando que os jogadores representavam a sua pátria. A idéia era apoiar o país anfitrião, com a intenção de unir a nação.
E foi para isso que ele resolveu chamar o capitão do time, François Pieenar. Em uma longa conversa, Mandela fez o entender de que o time poderia se esforçar mais, se unir, fazer a população negra que torcia contra, torcer a favor. Pediu que o time fosse ensinar o esporte nas comunidades carentes, e o último pedido, foi para que a equipe desacreditada, se tornar-se campeã.
Desde então aquele time questionado, sem apoio, começava a inverter os papéis iniciais. Mais unido e com apoio popular, a equipe do capitão Pieenar começava a ganhar confiança e respeito.
Na estréia do Mundial, os Springboks, como é chamado a equipe sul-africana, enfrentaria a poderosa Austrália. Porém, um dia antes, Mandela visitaria o último treino da seleção e entregaria em mãos a Pieenar, o poema "Invictus" de William Ernest Henley. Poema que o próprio Mandela lia na prisão e foi ele quem inspirou o presidente a ser o que se tornou:"...Não importa quão estreito o portão, quão repleta de castigo a sentença, eu sou o senhor de meu destino, eu sou o capitão de minha alma..."
Esse poema também inspiraria Pieenar a liderar o time naquele Mundial e se tornar o principal jogador da equipe. Na estréia, o time venceria a Austrália, por 27-18, deixando a torcida orgulhosa pelo feito. Encerraria a 1ª fase, vencendo a Romênia e o Canadá. Nas quartas venceria a Samoa Ocidental e nas semis a França. Chegaria nas finais para enfrentar a temível Nova Zelândia, os populares All Blacks, do grande jogador Jonah Lomu, a quem todos tinha medo, pelo forte porte físico e por ser o grande destaque do torneio.
Dias antes da grande decisão, os jogadores dos Springboks resolveram visitar a prisão de Robben Island, desejo de Pieenar. E o jogador viu a cela aonde Mandela ficou por 27 anos, a pedreira aonde ele trabalhou, e se perguntou:"Como alguém pode ter vivido aqui por 27 anos e sair para perdoar as pessoas que o colocaram lá?".
Na decisão, Mandela vai ao gramado do Ellis Park e cumprimenta todos os jogadores das duas seleções, inclusive Jonah Lomu, a quem confidencia:"Meu país teme você."
Durante a decisão, a África do Sul se supera, com uma marcação forte e focada na decisão o time consegue anular Jonah Lomu e de forma épica vence os All Blacks, por 15-12, na prorrogação. Em um cenário perfeito como um enrendo de um filme, toda nação comemoraria aquele título de forma inesquecível.
Mandela entregaria o troféu do torneio para o capitão Pieenar, marcando historicamente aquela cena.


A questionada e conturbada seleção, se uniria e venceria o Mundial, a conselho de um líder que mudou o país, e que emplacou na humanidade o seu nome.
Nelson Mandela, faleceu na última quinta-feira, mas nos proporcionou inúmeras histórias de superação. A começar pela sua própria história, como já dita aqui. Prisoneiro por 27 anos, lutou contra o Apartheid, se tornou presidente do seu país, perdoou seus acusadores e provou ao mundo que a melhor forma de vencer as diferenças, é viver em união. 

Para registro, o filme "Invictus" de 2009, do diretor Clint Eastwood e interpretado pelos atores Morgan Freeman e Matt Damon relata muito bem a história da Copa do Mundo de Rúgbi de 1995. 

O vídeo abaixo, mostra o momento que Nelson Mandela entrega o troféu Webb Ellis a François Pieenar:




domingo, 1 de dezembro de 2013

O ESPORTE E SUA LUTA CONTRA À AIDS

Hoje, 1º de dezembro é conhecido internacionalmente como Dia Mundial do Combate à AIDS. E como o blog é ligado a contar histórias relacionadas do esporte, contaremos nesse texto, duas histórias que dois atletas que vivenciaram parte de suas carreiras com o vírus HIV.
Todos já devem ter ouvido falar de um dos maiores jogadores de basquete de todos os tempos, com cinco títulos da Nba, e por três vezes eleito melhor jogador. Trata-se de Earvin Johnson Jr, ou o popular conhecimento Magic Johnson.
Com uma carreira muito vitoriosa e com uma técnica sem igual, Magic Johnson entrou para o Hall da Fama do Basquete Mundial. Talento nunca faltou para um armador que improvisa jogadas e fazia os torcedores do Lakers irem ao delírio. Até o dia 7 de novembro de 1991, quando surpreendeu o mundo em uma coletiva, que era portador do vírus HIV. Desde então, a doença que aterrorizava o mundo no início dos anos 90, que não escolhia famosos e anônimos, seria o maior adversário da vida do grande jogador de basquete.

Conjunto a este anúncio, Johnson também confirmava que estava se aposentando e que iria iniciar uma luta contra a "doença mortal". Mas devido a grande margem de votos para o All Star Game de 1992, Johnson foi escolhido para atuar entre os titulares. Diversos jogadores da Nba, como Byron Scott e Karl Marlone afirmaram que ele não deveria jogar, devido a um possível ferimento quando estivesse em quadra. Mesmo questionado, Magic Johnson foi a quadra, e com uma boa atuação , liderou o time do Oeste, na vitória por 153-113, com 25 pontos, 9 assistências e 5 rebotes, pontuação que lhe deu o prêmio de Mvp do All Star Game 1992. A cena mais marcante, foi ter feito os últimos pontos do jogo, em uma cesta de 3 pontos, e ser abraçado por todos os jogadores.
Mesmo lutando contra a doença, Johnson foi selecionado para disputar as Olimpíadas de 1992, em Barcelona, sendo mais um integrante do "Dream Team". Mesmo com a polêmica de um atleta portador do vírus HIV estar disputando os Jogos Olímpicos, ele seguiu a competição com atuação discreta, devido a lesão no joelho. A atuação do basquete norte-americano foi jamais vista, o time foi medalha de ouro, e ao final da competição, Magic Johnson foi aplaudido de pé pelos torcedores, e usou as Olimpíadas para servir de incentivo aos portadores de HIV, que sofriam demais psicologicamente com o preconceito.


Motivado pelas Olimpíadas, Johnson anunciou no verão de 1992, que voltaria às quadras da Nba. Mas rumores nos bastidores da liga, diziam que vários jogadores eram contrário ao seu retorno. Chateado, Magic Johnson optou por não voltar, escreveu um livro com o tema "sexo seguro", engajou-se na carreira de comentarista e fez excursões pela Ásia e Oceania, com ex-jogadores de basquete.
No final da temporada 1993/1994, Johnson aceitou substituir Randy Pfund, no comando técnico do Lakers. Tentativa frustrada, após cinco derrotas, em seis partidas, ele entregava o cargo. Na temporada seguinte, Magic Johnson superou o preconceito e retornou ao Lakers, atuando como pivô. Após a eliminação da 1ª rodada dos Play-offs, para o Houston Rockets, ele decidiu por definitivo abandonar a carreira e se tratar com intensidade. Ele anunciava:"Não tenho mais condições de jogar".
Magic Johnson havera escrito definitivamente sua história no basquete mundial. Tanto é que possui uma estátua a frente do Staples Center, e o Lakers aposentou a camisa 32, usada por ele.
Após sua última aposentadoria, em meio ao tratamento, ele se tornou ativista, criou aas Fundações Magic Johnson, que auxilia no combate ao vírus. Também foi garoto-propaganda dos remédios da GlaxoSmithKline, e se associou aos Laboratórios Abbott, para divulgar campanhas de combate a doença em comunidades afro-americanas. Também é empresário, e hoje comenta jogos da Nba, para rede norte-americana ABC. Uma história de superação.


UMA OUTRA HISTÓRIA...

Quem não teve a mesma história de superação, foi o atacante Gérson. Revelado na categorias de base do Santos, aonde marcaria um gol na decisão da Copa São Paulo de 1984, contra o Corinthians, no estádio do Canindé, conquistando um título inédito para o Santos. Em seguida, subiria para o time profissional da Vila Belmiro, mas não teria muito sucesso. Seria emprestado para o Guarani, aonde também não conseguiria desempenhar o seu promissor futebol.
Em meio a isso, Gérson seria convocado para disputar o Mundial de Juniores de 1985, na União Soviética.
Foi um jogador decisivo para a conquista do Brasil, time que contava com Taffarel, Silas e Müller.
Retornava ao Guarani, e seguia sem chances de ser de aproveitado. Voltaria para o Santos, que o emprestaria para o Paulista de Jundiaí, aonde brilharia de fato. Os torcedores lotavam o Jayme Cintra, somente para ver o jogador.
O sucesso do jogador em Jundiaí, abriria as portas do Atlético/Mg, no final de 1988. Aonde se tornava finalmente titular absoluto de um grande time do Brasil, se encaixava no bom time atleticano que seria o campeão mineiro do ano seguinte. Gérson vivia o seu melhor momento na carreira, tanto é que chegou a ser convocado pelo treinador da seleção brasileira, Sebastião Lazaroni, para uma série de amistosos na Europa. Sem sucesso com camisa da amarelinha, não foi convocado para a Copa do Mundo de 1990.
Ainda no ano de 1989, Gérson entraria para a história por ser o artilheiro da 1ª edição da Copa do Brasil, um torneio que Gérson mais fez sucesso. Até hoje, ele é único jogador que foi artilheiro por três vezes(1989, 1991 e 1992). E foi pelo torneio, em 1991, na maior goleada da história da competição, Atlético/Mg 11-0 Caiçara, em que Gérson fez 5 gols, no antigo Independência.
Porém no mesmo ano de 1991, Gérson seria negociado com o Internacional, último clube de sua carreira. No Inter, já chegava copando um título, o Gauchão daquele ano, quebrando uma hegemonia gremista.
1992, seria o ano mais marcante da vida de Gérson. Ele voltava a ser o grande goleador dos tempos de Atlético/Mg, ganharia da torcida colorada o carinhoso apelido de "Nego Gérson, até o dia em que o dirigente do Inter, Romeu Masiero anunciava a imprensa, que um exame de sangue do atacante era soropositivo e ele portava vírus HIV. A notícia pipocava nos jornais de Porto Alegre, que fez o jogador convocar um deles e negar a doença, dizendo que era caxumba.
O treinador Antônio Lopes estava com um grande problema, pois a notícia abalava o vestiário do Internacional. A melhor medida tomada pelo treinador, foi o afastamento do atacante. Enquanto os jogadores e a torcida fazia apelo para o seu retorno. Gérson convivia em um abalo psicológico e rumores de tentativa de suicídio.
Após alguns meses do afastamento, Gérson voltava a ser integrado no Inter. E seria o grande destaque do Inter, até o final daquela temporada. Inclusive em sua competição favorita, a Copa do Brasil, aonde novamente seria o artilheiro e pela 1ª vez conquistava o campeonato. Gérson vencia o medo, o preconceito e após 13 anos, deixaria o colorado o orgulho de viver um título nacional, além de vencer novamente o Gauchão daquele ano.
Gérson, se tornava um ídolo dos colorados, mas voltaria a sofrer com os efeitos da doença. Em 1993, pouco jogou, companheiros dele dizia que a perda de peso e o abatimento era algo visível. No mesmo ano, por pouco jogar, o jogador teve o seu contrato rescindido e disse que iria voltar para Baixada Santista e depois pensaria em sua carreira. Algo escondido, aparentava se confirmar. Gérson de fato, estava doente e tentava lutar contra isso. Foi internado no Hospital Santo Amaro, no Guarujá, no início de 1994, em um estado debilitado. Precisando de dinheiro, o Santos treinador por Serginho Chulapa organizou um jogo beneficente para arrecadar fundos para o seu tratamento.
Mesmo assim, Gérson não suportou e acabou falecendo no dia 17 de maio de 1994, vítima de toxoplasmose.
Até hoje, ninguém tem ao certo se Gérson portava mesmo o vírus HIV. Embora os laboratórios de Porto Alegre afirmem.
Para registro, quando Gérson faleceu sua esposa Andreia, estava grávida da 3ª filha. Dias depois de sua morte, nasceu Tainá, que o jogador não a conhecera.